14 de dez. de 2025

 



A casa dos espíritos é tanto uma emblemática saga familiar quanto um relato acerca de um período turbulento na história de um país latino-americano indefinido. Isabel Allende constrói um mundo conduzido pelos espíritos e o enche de habitantes expressivos e muito humanos, incluindo Esteban, o patriarca, um homem volátil e orgulhoso, cujo desejo por terra é lendário e que vive assombrado pela paixão tirânica que sente pela esposa que nunca pode ter por completo; Clara, a matriarca, evasiva e misteriosa, que prevê a tragédia familiar e molda o destino da casa e dos Trueba; Blanca, sua filha, de fala suave, mas rebelde, cujo amor chocante pelo filho do capataz de seu pai alimenta o eterno desprezo de Esteban, mesmo quando resulta na neta que ele tanto adora; e Alba, o fruto do amor proibido de Blanca, uma mulher ardente, obstinada e dotada de luminosa beleza.

As paixões, lutas e segredos da família Trueba abrangem três gerações e um século de transformações violentas, que culminaram em uma crise que levam o patriarca e sua amada neta para lados opostos das barricadas. Conhecido como obra-prima da literatura latino-americana, A casa dos espíritos apresenta uma narrativa instigante que costura passado, presente e futuro de maneira fluida e elegante. Isabel Allende nos presenteia com personagens ricos em emoção e detalhes bastantes minuciosos a respeito do universo que os rodeia. Um romance atemporal com toques de inspiração na família da própria autora, com certeza é uma obra que precisa estar na estante dos leitores.

Sinopse da editora


"Tal como no momento de vir ao mundo, ao morrer temos medo do desconhecido. Mas o medo é algo interior, que nada tem a ver com a realidade. Morrer é como nascer: apenas uma mudança". 

Tenho uma lembrança lá dos anos 1990, quando eu assistia repetidamente um filme com a minha mãe chamado “A casa dos espíritos”, em uma fita VHS que meu tio tinha de uma coleção da Folha de S. Paulo, e que era uma história que muito me comovia. Corta para esses dias eu conversando com a minha mãe sobre a leitura de “A casa dos espíritos” e ela que me lembrou que assistíamos a um filme com o mesmo nome. E para minha grata surpresa, quando decidimos revisitar o filme depois da nossa conversa, estrelado por Meryl Streep, Winona Ryder, Glenn Close, Antonio Banderas e Jeremy Irons, se tratava da mesma história.


cena do filme A casa dos espíritos

Na verdade não é exaaaatamente a mesma história, pois o filme enxugou as 4 gerações da família presentes no livro em uma geração só. Tudo o que Alba viveu no livro, na verdade foi vivido por Blanca no filme, e essa versão resumida se torna entendível quando temos uma história rica em detalhes minuciosos que precisa caber em um único filme. Todas as salpicadas de realismo mágico também foram deixadas de fora da versão no audiovisual, mas acredito que a série que será lançada pelo Prime Video em 2026 trará uma versão mais fiel a obra de Isabel Allende.


cena da série A casa dos espíritos, com estreia prevista para 2026, no Prime Video


E mesmo com tamanho resumão, o filme é tão bom quanto esse precioso livro.

Não imaginava que esta obra de estreia de Isabel Allende em 1982 se tornaria uma das obras mais marcantes na minha vida. Foi uma grata experiência esse tempo que tive junto a essa história, que não tive a menor pressa de terminar de ler. Amei a escrita da Allende (esse foi meu primeiro contato com a autora), e saber que tudo foi baseado em histórias sobre a própria família dela e que Alba é seu alterego tornou tudo mais especial ainda.

Amei como Allende adiciona pequenos spoilers na narrativa para nos prender ainda mais ao livro, como por exemplo, ela introduzir um novo personagem e dizer “mal sabia ele que seria o responsável por uma grande tragédia na família”… como depois disso a gente não sente vontade de devorar o livro até a tal tragédia finalmente chegar?

Acho que é inevitável não embarcar nesta leitura e reviver alguma memória da nossa própria família. E se o filme já tinha me feito criar um momento especial com minha mãe na minha infância, ler o livro depois de tantos anos fez com que eu sentisse uma imensa saudade dessa época maravilhosa, regado ainda com um show de aprendizado sobre a história política do Chile, envolto de uma grande fofoca de família com 3 gerações de mulheres fortes e inspiradoras.

14 de nov. de 2025

 



Desde 2008, quando postei pela primeira vez aqui no PhD, eu tinha uma única certeza: eu não queria engessar meu conteúdo, transformando esse espaço em um blog segmentado. Daquele ano para cá um trilhão de assuntos já foram postados nesse espaço, textos esses assinados por tanta gente incrível que já deixou a sua marca aqui, e que morro de orgulho por fazer parte disso.

Com o advento das mídias sociais a internet foi se transformando. O nosso comportamento também mudou demais, influenciado especificamente por essa nova onda virtual que tomou conta da nossa vida em todos os sentidos possíveis, e como tudo que é excessivo, também nos causou um grande mal.

Eis que o algoritmo surgiu para se transformar em um terceiro elemento na sala social. Ele é aquele convidado que nunca foi chamado, mas acha que sabe de tudo, e se intromete em todas as conversas. Sugere tanta coisa que até nos cansa. E aí que nossa bateria social acaba. Tudo por culpa dele.

É ele também que desencoraja qualquer pessoa em acreditar em seu potencial real. Ele molda tanto as pessoas, prometendo falar bem de você para todos, mas exigindo que todos dancem a mesma música, sigam o mesmo ritmo, falem das mesmas coisas, que ao cumprir sua promessa, transforma todo mundo em um único rosto, uma única voz. Milhares de pessoas com o mesmo assunto e sem nenhuma espontaneidade.

E é aí que a gente se cansa.

É tanta gente sentindo necessidade de performar que nada mais é natural. É tanta gente deixando de entregar conteúdo criativo e interessante, porque ninguém fala sobre isso, e consequentemente, o medo de "flopar" fala mais alto. E esse controle também cansa para quem adota esse tom, e para quem consome esse tom.

Esse assunto tem tantas camadas que ao invés de fazer textão, decidi gravar um video a respeito no canal. E ele está aqui.

Quem mais cansou de ouvir as mesmas músicas? Assistir o mesmo tipo de filme? Ver inúmeras trends fazendo a mesma coisa, mudando só a fuça de quem produz? 

O algoritmo veio para enfiar todo mundo em suas bolhas, e quem ousa estourar se torna invisível.


11 de nov. de 2025

 


Quando a década de 1980 começa a dar as caras no Rio de Janeiro, o tempo é de contradições. À efervescência musical e a uma febril vontade
de viver, unem-se a instabilidade política, a aterrorizadora epidemia de aids e o aumento do tráfico nas favelas. E cinco personagens, de idades diferentes, aspirações diferentes, mundos diferentes, veem a vida mudar completamente. Inácio, apaixonado por Baby, larga a faculdade de engenharia quando conhece César, produtor musical gay que, como Baby, busca encontrar o próprio lugar no mundo. Selma, mãe de César, lida com o abandono do marido e o medo de perder o filho. Em seu prédio, trabalha Rosalvo, paraibano recém-chegado à Rocinha em busca do assassino de sua filha trans.
Gostaria que você estivesse aqui é um romance sobre perder a inocência e entregar-se ao mundo por inteiro.

Sinopse da editora

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Quando tive meu primeiro contato com a escrita de Fernando Scheller com o livro “o amor segundo buenos aires”, sabia que ele se tornaria um dos meus autores nacionais favoritos, e foi com “gostaria que você estivesse aqui” que eu tive certeza.

Porque Fernando não escreve somente histórias, ele poetiza vidas ordinárias.

Nesse livro somos apresentados a personagens cariocas que vivem na década de 1980. Embora pareça que Inácio seja o ponto central da história, todos ali têm suas respectivas funções significativas na trama. Cada um traz ao livro uma perspectiva diferente à história: há o romance, há o não romance, há a história da AIDS dando sinais de grande avanço no país e há ainda o pai que quer vingar a morte da filha trans. Não teve um personagem sequer que deixou de me prender a cada capítulo lido.

O final do livro deixa aquele gostinho de quero mais: a gente quer saber mais sobre a nova vida de Selma, como será a vida adulta de Inácio e de Baby, as consequências do último ato de Rosalvo. Mas nada que tire todo o brilho da história, em que o autor sabia exatamente onde ele deveria parar de narrar.

Tô ansiosa para o próximo lançamento de Fernando Scheller.

26 de out. de 2025

 


Trilogia de Copenhagen é a obra-prima de Tove Ditlevsen (1917-1976), uma das principais vozes da literatura dinamarquesa do século XX, e reúne três volumes autobiográficos. Em Infância , acompanhamos a história dos primeiros anos da escritora, que cresceu em um bairro operário e sonha em se tornar poeta. Juventude descreve suas primeiras experiências sexuais e profissionais e a conquista de sua independência. No terceiro volume, Dependência , Tove já é conhecida nos círculos literários ― mas sua vida pessoal entra em colapso comcasamentos conturbados e o vício em opioides.
Ao longo de todo o livro, está presente o embate entre a vocação literária de Tove e as expectativas reservadas a uma mulher de classe trabalhadora. Sucesso internacional de público e crítica, a Trilogia pode ser considerada uma antecessora intelectual e temática da obra de Annie Ernaux e Elena Ferrante, destacando-se por sua honestidade brutal e pela representação das amizades femininas.

Sinopse da editora

"Acho que isso é que os adultos tem de pior: nunca passa pela cabeça deles que, uma vez na vida que seja, agiram mal ou foram irresponsáveis. Têm muita pressa em julgar os outros, mas o dia de julgar a si próprios nunca chega."



Sabe quando você pega um livro bom no mood errado? Foi essa a minha experiência de leitura com A Trilogia de Copenhagen, pois estava eu em um momento que exigia uma leitura levinha, e acabei em um torpor denso dessa leitura avassaladora.

Mas essa densidade chegou aos poucos.

O primeiro capitulo sobre a infância me transmitiu algo que há muito eu ando refletindo: quando somos crianças temos a capacidade de proteger o nosso psicológico criando vertentes de nossos pais, e por isso temos muita facilidade para enxergarmos como heróis, como figuras imbatíveis que jamais deixariam acontecer algo conosco.

Quando crescemos e perdemos essa venda, parece que o baque é maior. Reconhecer as falhas de nossos até então heróis é doloroso, e muitas vezes difícil ao ponto de muitos se permitirem a submissão mesmo que esse relacionamento seja nocivo e penoso.

O capítulo da infância me surpreendeu pela clareza que a autora, ainda tão nova, tinha de sua realidade. A frieza da educação recebida tão comum naquela época é autoexplicativa - famílias disfuncionais que criaram novas famílias disfuncionais, que criaram outras novas famílias disfuncionais ao longo de tantos anos - se caso não conhecemos alguma família assim, certamente fazemos parte de uma.

Já o capítulo da juventude me levou a um outro universo lido antes - a da tetralogia napolitana, de Ferrante. Acho que por isso muitas pessoas assemelham a obra da autora italiana com a pioneira Tove. Um universo no qual a precariedade se faz presente, e que todos os jovens, sem exceção, buscam um lugar no mundo - a necessidade pulsante da aceitação.

Nessa fase Tove mostra o quão era a frente de seu tempo. O quanto os seus desejos iam além do que as moças de sua idade costumavam almejar para suas vidas, e ao mesmo tempo, vivia na mesma insegurança psicológica, emocional e financeira que muitas viviam.

Mas o baque maior foi o capítulo da dependência. Uma fase que chegou como um cometa na vida de Tove. Fiquei arrasada com seu relato forte, até apressado, sobre esta fase tão perturbada, e que depois descobri que infelizmente levou a sua vida. É desesperador saber que um toxicodependente abre mão de todas as coisas boas de sua vida para alimentar seu vício, seja a família, um grande amor e/ou uma carreira brilhante.

A trilogia foi escrita entre 1967 e 1971, e Tove faleceu em 1976, somente 5 anos depois da última parte de sua trilogia ter sido lançada.


Assista o vídeo da resenha completa no Youtube:


20 de set. de 2025

 


Já faz um tempo que venho refletindo muito sobre o uso das redes sociais em minha vida e os efeitos colaterais que elas me causam - afinal de contas, eu trabalho nesse universo há quase duas décadas e é sempre necessário fazer uma força, mesmo que hercúlea, para manter a sanidade diante dessa nova realidade. 

Falta de paciência, falta de interesse na vida real, comparações absurdas, sentimento de inferioridade, dores nos braços, postura modificada, ansiedade e até mesmo depressão são só alguns dos inúmeros efeitos sentidos por diversas pessoas, que muitas vezes até demoram para notar o verdadeiro causador de tudo isso. Mas o que fazer para mudar?

Por que somos uma geração apressada?

Por que nos tornamos uma sociedade formada por pessoas cada vez mais isoladas?

Afinal de contas, o que é F.o.M.O.?

Vem bater um papo comigo sobre tudo isso neste meu vídeo?


 



Maya Killgore tem 23 anos e ainda está descobrindo o que quer da vida. Conor Harkness tem 38, e Maya não consegue parar de pensar nele.

É um clichê tão grande que o coração dela quase não aguenta: homem mais velho e mulher mais nova, empresário rico e estudante falida, melhor amigo do irmão e a garota na qual ele nunca reparou.

Como Conor adora relembrar, a dinâmica de poder entre eles é totalmente desequilibrada. Qualquer relação entre os dois seria muito problemática e Maya precisa superá-lo. Afinal, Conor já deixou claro que não a quer em sua vida.

Mas nem tudo é o que parece... e clichês às vezes sofrem reviravoltas.

Quando o irmão de Maya decide se casar na Itália, ela e Conor são forçados a passar uma semana juntos em uma charmosa villa siciliana. À beira da praia, em meio a antigas ruínas, comidas maravilhosas e cavernas naturais, Maya percebe que talvez Conor esteja escondendo alguma coisa.

Em meio aos caóticos preparativos para o casamento, ela decide que um romance de verão pode ser justamente o que precisa... mesmo que seja problemático.

Sinopse da editora

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Este foi o meu primeiro contato com a autora Ali Hazelwood, e para quem estava precisando de uma leitura leve para deixar o cérebro bem lisinho lisinho, tive 100% de aproveitamento.

Quem espera um livro que traga alguma reflexão ou coisa do gênero vai cair do cavalo - o ideal é nem criar expectativa nenhuma, já que estamos falando de uma comédia romântica em que os personagens principais tem uma diferença gritante de idade, e embora o cara sempre seja resistente a levar esse relacionamento adiante por conta da imagem negativa que ele tinha do pai (que pegava só novinhas), a ideia não é trazer nenhum ensinamento básico sobre isso mesmo.

Aliás, o que a Maya (a protagonista) menos deixa acontecer nessa história é que uma conversa séria aconteça, mesmo quando é necessário. As piadolas dela me arrancaram risadas em certos momentos, mas em outros eu simplesmente queria que ela desse uma calada de boca.


No mais, a autora sabe construir muito bem coadjuvantes interessantes, diálogos envolventes e não poupa detalhes nas cenas hots - o que pode incomodar bastante as leitoras mais recatadas.

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