Duanny Evelyn: Crua e nua


Foto: La Parola

Esperar pelas palavras não combina muito bem com essa minha vontade de atropelar as linhas e comer versos. Me faço de garota desocupada pra me ocupar de não ter o que fazer, enquanto o sol faz queimar o chão e me faz sorrir de pés descalços no meu assoalho frio e desconcertante.
Ainda falta a sinceridade sair da minha boca e parar na ponta dos dedos, ainda falta meus sonhos se tornarem meus o suficiente pra eu conseguir acreditar, ainda falta muita coisa, mas hoje eu percebo que sinto todas as frustrações como o suor me descendo pelas costas: irritante e exaustivo.
Abro as janelas da casa - calor demais dentro do meu peito frio de desilusões - abro a porta, tímida e insolente, quente demais para minhas extremidades geladas de amores inexistentes. E silêncio. Silêncio abafado, de quartas- feiras sem brisa e sem beijos dados do lado de fora, sem música discreta e vestidos rodados. Silêncio que se cala pelo risco da caneta na folha branca e antipática. Não, hoje ela não quer mais amores.
E me estico pra ver se entro nessa minha vontade gigantesca de viver, pra ver se não sobra espaço demais entre minha língua e você, e me deixo desenrolar por sua música que faz o sol se esconder, se calar e deixar um rastro de suor na minha pele morena.
E me encontro sentada fazendo o estilo desalmada de puta da novela das oito, sorrindo pra fora enquanto alguns sonhos me rasgam a garganta querendo atenção, querendo ação. E se pego a caneta é pra fazer de conta que sei o que fazer com ela; que sei riscar com elegância uma folha branca que já se cansou de ilusões pretensiosas.
Paro e observo lá fora, a chuva com suas pernas finas, caírem delicadas no chão quente e se tornarem banais. Ela continua ali me observando com minhas pernas finas, sorrio por dentro e mostro os dentes por fora, fácil ser assim quando ninguém te cobra compostura.
O problema é que o fim se torna fácil de mais quando as palavras já se acomodaram na palma da minha mão. Observo atenta, versos assim me lembram corações intactos e sorrisos no fim da noite, não penso duas vezes, e como, como os versos porque assim é mais fácil se despedir sem gritar nomes por dentro, como os versos porque no fim da noite o ultimo sorriso que você vai ter, será o meu.

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Foto: Ana Dias

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