Soraia: Voltando à infância

Uma das frases mais marcantes de “O Pequeno Príncipe”, do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry”, é “as crianças dever ser muito tolerantes com as pessoas grandes”. Incluo nesta categoria as crianças internas, aquelas que nos fazem sonhar ainda depois de adultos. Muitas vezes, por falta de tempo e até mesmo disposição, deixamos para trás sonhos e vontades em prol dos compromissos cotidianos. Para tentar resgatar esses pequenos “eus”, selecionei alguns livros que têm gosto de infância, mas que, ao serem lidos depois de certa idade, ganham um novo aspecto e interpretações muito diferentes daqueles feitas quando éramos infantes. Vamos viajar?














Onde vivem os monstros – de Maurice Sandak 

Inicialmente, esta obra poderia ser classificada como meramente infantil. Lançada em 1963, a história é rica em ilustrações, as quais permeiam as 40 páginas e ajudam a contar a trajetória de Max, um menino de oito anos que, ao ser enviado para a sua cama sem jantar, inventa uma floresta em seu quarto. Esta floresta apresenta um mundo novo à criança, no qual o menino deve enfrentar seus monstros internos e aprender com seus erros e acertos. Os diversos símbolos e arquétipos apresentados pelo autor ajudam a perceber porque trata-se de um livro tão importante para adultos quanto para crianças. Por ser um mundo mágico e complexo, ganhou uma versão cinematográfica em 2009, a qual também vale a pena ser conferida.

Alice – de Lewis Carroll 

O que a Disney juntou poucas pessoas foram capazes de separar. Poucos sabem, mas o desenho de 1951 realizado pelas indústrias de Walt Disney compilou dois livros escritos pelo matemático inglês Lewis Carroll: “Aventuras de Alice no País das Maravilhas” e “Através do espelho e o que Alice encontrou por lá”. Essas duas obras são complementares, por isso muitas vezes são encaradas como uma só publicação. A Disney, em sua primeira versão, tratou de mostrar apenas os aspectos mágicos daquele mundo onírico e estranhamente extraordinário criado por Alice. Já em sua segunda versão, graças ao diretor Tim Burton, foi possível conhecer o outro lado da personagem principal e também a profundidade do conteúdo do livro. Mais uma vez, o olhar adulto sobre uma obra infantil faz com que os meandros obscuros venham à tona, despertando o leitor para aspectos ignorados na infância. Um desses exemplos é a lógica matemática aplicada à retórica, a qual fica mais explícita na versão inglesa do livro, e que mostram que mesmo frases gramaticalmente impecáveis podem não fazer o menor sentido. Que o digam a Lebre Louca e o Chapeleiro Maluco.

As Crônicas de Nárnia – de C. S. Lewis

Esses livros podem ser considerados infanto-juvenis, mas apresentam inquietações éticas e religiosas que normalmente só são percebidas por leitores mais maduros. Amigo de J. R. R. Tolkien (autor da trilogia “O Senhor dos Anéis”, “O Hobbit”, entre outros), Lewis fez questão de criar um mundo mágico, paralelo, no qual (comente) crianças têm o poder de ajudar de maneira incisiva em um lugar chamado Nárnia. Suas decisões, inquietações e dilemas causam mudanças em todo o ambiente, inclusive nos moradores de Nárnia, o que faz com que eles sejam vistos como escolhidos e idolatrados, ganhando o status de reis e princesas. É um bom convite à leitura justamente pelos problemas específicos presentes em cada crônica que compõe a série. Para ver se a temática lhe agrada, veja as adaptações cinematográficas de pelo menos três livros: “O leão, a feiticeira e o guarda-roupas”, “O Príncipe Cáspian” e “A viagem do peregrino da alvorada”.

Trilogia Fronteiras do Universo – de Phillip Pullman 

Mundos paralelos e complementares (pelo menos até certo ponto) são igualmente o enredo desta trilogia, que conta a história de Lyra e o seu papel para manter o equilíbrio entre estes mundos. A trilogia é formada pelos livros “A bússola de ouro”, o qual inclusive já foi adaptado ao cinema, “A faca sutil” e “Luneta Âmbar”, e possui uma temática mágica, mostrando em diferentes prismas assuntos como alma, mundos paralelos, consciência, ciência e religião. Trata-se de uma crítica ao mundo pós-moderno e deve ser conferida justamente por ser bastante contemporâneo (a trilogia teve início em 1995).

Essas são apenas algumas das amostras literárias que separei para ilustrar tais releituras. Muitos outros livros, como Harry Potter e o próprio Pequeno Príncipe, citado no início do texto, também podem proporcionar gratas surpresas. E aí? Entusiasmado para voltar momentaneamente à infância?


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