Juh Trinci: Você conhece o MADA?


Meu nome é Maria Lúcia*. Sou uma MADA. Mas o que vem a ser uma MADA?

A Sigla MADA significa mulheres que amam demais anônimas. São mulheres que o amor ao invés de ajudar, atrapalha a vida. Como assim? Vou dar alguns exemplos:

Aos 17 anos recém saída do colegial, ( o atual ensino médio) estudava para passar nos exames da Fuvest. Meu sonho era ingressar na faculdade de Letras da Universidade de São Paulo (USP). Para conseguir pagar o cursinho de final de semana (o único que cabia no meu bolso) eu cuidava de uma sobrinha enquanto a mãe dela trabalhava. Minha rotina era acordar as 06h, estudar até as 08h; cuidava da Giulia até as 16h e voltava aos livros até as 22h. Aos sábados frequentava o cursinho no período integral , e ao chegar em casa revisava o que tinha sido passado em aula. Até que um bendito dia, pensando em relaxar um pouquinho, entrei em uma sala de bate papo e conheci o Luã* [nome fictício]. Ele morava em São Carlos e começamos um namoro virtual. Minha rotina mudou com isso. Telefones, cartas (naquela época era mais fácil escrever cartas do que mandar e-mails)... Mesmo assim consegui passar para a segunda fase do vestibular.

Nesse meio termo Luã terminou comigo. Escondida dos meus amigos e parentes, fui até a cidade dele. Não adiantou nada. Ele estava irredutivel e quis por um ponto final.

Como diria nossa rainha da fossa Maysa [cantora da década de 1960], “meu mundo caiu”. Fui fazer os testes da segunda fase chorando e com pressa para terminar. Final da história: Não realizei meu sonho em passar na faculdade pública desejada.

Anos depois voltei a morar sozinha. Eu trabalhava e estava juntando dinheiro para uma viagem ao exterior. Estava também me organizando e me dedicando ao curso de inglês e a faculdade particular de Jornalismo. Meu trabalho de conclusão de curso (TCC) seria um livro reportagem, que já estava sendo bem comentando entre o corpo docente da instituição que estudava. Nesse meio tempo, uma amiga minha me apresentou a um rapaz. Se eu for contar tudo o que aconteceu nesse namoro, daria uma peça de espetáculo, bem ao estilo tragédia Grega. Ele era uma pessoa bipolar, me traía e mesmo nessas condições, me dedicava de corpo e alma à esse relacionamento. Até saí de minha casa para morar com ele.

Resumindo a história, no fim do relacionamento eu tive que passar por um tratamento psiquiátrico, fazia terapias e tomava remédios, por conta de uma forte depressão adquirida. Fui morar com meu tio e fiquei desempregada.

Abandonei o curso de Inglês e o livro reportagem se transformou em uma insossa matéria especial para uma revista semanal experimental. A faculdade foi terminada empurrando-a com a barriga.

Isso é uma MADA: mulheres que amam em demasia e esquecem de si próprias. Não precisa ser apenas um parceiro. Pode ser o filho, a mãe, uma amiga... Elas esquecem de si mesmas e se anulam, vivendo apenas para o homem que escolheu amar.

Atualmente reinicio a minha vida. Fui em algumas reuniões do grupo MADA, mas ainda sigo com a terapia. Graças a força de vontade a conquistar uma vida emotiva estável, parei com os remédios e me mantenho longe de grandes paixões. Sei que não é a maneira mais correta de agir, mas como diria o ditado “gato escaldado tem medo de água fria”.

*nomes fictícios utilizados pela autora para preservar a imagem dos personagens mencionados

Um comentário

  1. Nossa, lembrei daquela novela 'Mulheres Apaixonadas'Sabe? ... Uma das personagens frequentava o MADA... =]

    "mulheres que amam demais anônimas. "

    Muitissimo interessante!

    ResponderExcluir

Instagram

PhD?. Theme by STS.