Bruna B - mulher com RG de menina.



Eu já devia ter ido ao bar umas vinte vezes aquela noite, o garçom já tinha virado meu melhor amigo e até me descolava umas cervejas de graça. Nem lembro qual banda estava tocando, nenhuma era famosa mesmo, eu só ouvia as batidas da bateria, os solos de guitarra e algumas vozes meio engasgadas.
Era carnaval e pra mim estava sendo ótimo, conversei com pessoas que nem lembro o nome, e estava ate meio sem rumo, a bebida permitiu que minha timidez fosse embora, e ao mesmo tempo apagou muitas memórias daquele dia.
Conversei com algumas meninas e decidimos jogar bilhar, claro, a banda era horrível e eu já nem sabia mais o que estava fazendo, porque não jogar bilhar? O taco mal parava na minha mão, eu não enxergava as bolas, mas consegui dar muita risada.
Reparei que o banheiro masculino era na sala de bilhar, tinha uma fila enorme, todos entravam, fechavam a porta, faziam a sua necessidade e iam embora. Menos um, um ser intrigante com cara de anjo e pose de diabinho. Esse daí fez suas necessidades com a porta aberta, da pra acreditar? Fiquei revoltada.


Eu juro que minha vontade era invadir aquele banheiro e dar uma bronca nele, bater a porta com toda a força e dar barraco. Mas me contive ao jogo de bilhar.
Porem quando ele saiu do banheiro, passou do meu lado, a gente deve ter trombado um no outro – não me lembro – na hora, não agüentei:
- Viu, você reparou que deixou a porta do banheiro aberta? – disse com toda aquela voz de brava, como se fosse uma mãe revoltada com o filho.
- Sim, e daí? – ele me respondeu com seus olhos claros meio que indignado comigo, e meio que achando graça.
Comecei a conversar com ele, falando sobre como isso era uma atitude horrível, que alguém poderia ter visto ele naquela situação, e todo aquele papo de bêbada que acha que tem a razão sabe?
Não desgrudei dele, ele continuou o assunto e quando vi, eu estava beijando o menino que ia ao banheiro e deixava a porta aberta - eu já tinha ouvido falar nele. Caio era seu nome, tocava bateria, era loiro do olho claro, tinha um rosto angelical mais um jeito de diabinho, simpático, engraçado e vivia pelas festas bebendo.
Depois de muito tempo juntos, ele se virou para mim e disse:
- Claire, eu já tinha te visto antes, sabia? Mas eu namorava, ai nunca falei com você, mas eu sempre te achei linda. – ele foi tão sincero, eu podia ver sinceridade, eram dois bêbados felizes por estarem se pegando, essa era a verdade, mas ao menos ele me achava linda.
Ficamos a noite toda de um lado para o outro, parando em cantos para se aproveitar um do outro, nossos beijos eram mais íntimos do que qualquer outra coisa, a gente tinha quimica, física e tudo mais que poderia ter pra dar certo.
A gente funcionava juntos, ele me completava, era como se ele entrasse dentro de mim e misturasse todos os meus órgãos, como se ele tirasse o chão em que meus pés estavam, era bom demais para ser traduzido, era intimo demais e era só um beijo.
Encostamos na parede e fomos conversar com minha amiga e seu namorado, papo vai papo vem, e o assunto caiu em filhos. Sim, filhos. Só não me pergunte como, porque eu não me lembro. Foi quando ele disse:
- Vamos ter três filhos. – ah seus olhos me hipnotizavam, eu não podia olhar dentro deles para não me perder lá.
- Tudo bem, mas eles tem que puxar pra mim, porque você é muito feio. – disse em tom de brincadeira, claro. Pela primeira vez eu me sentia livre para ser quem eu realmente sou com alguém, com todas minhas brincadeiras e manias.
- Claro, afinal você é muito linda. – e lá vem ele de novo tirar o meu chão daqui.
As conversas se estendiam pela noite, ele apoiava suas mãos em meu rosto com delicadeza, e encostava seus lábios macios nos meus, e eu podia esquecer de tudo ao meu redor, eu me sentia no poder da relação, ele me acompanhava entende? Eu não pedia mas ele estava ali a noite toda, aturando minha bebedeira e cuidando de mim.
Durante mais uma sessão de beijos calorosos, eu senti meu brinco cair, ele pegou pra mim e guardou eles na bolsa, cinco segundos depois nem lembrava mais eu tinha ido de brinco para a festa.
Fomos embora juntos, ele segurou minha mão, e ficava cheirando ela de cinco em cinco minutos:
- Suas mãos são macias e cheirosas, não vou soltar mais delas.
Eu dei muita risada, e contei do creme que eu havia comprado, sentamos na van lado a lado e ficamos conversando sobre a vida, eu sabia que provavelmente não iria ver mas ele, mas eu queria, nunca me senti tão bem ao lado de alguém, por outro lado tinha medo de levar aquilo adiante e perder a magia, talvez tenha sido tão bom porque ambos sabiam que era só aquilo.
Mas decidi não pensar naquilo, eu tinha poucos minutos ao lado dele, tinha que aproveitar.
Durante todo o caminho ele não soltou da minha mão, fez carinho nela, e me abraçou forte. Quando a van chegou em sua casa, meu coração até doeu, e ficou triste, ele se despediu com um beijo e partiu.
Fiquei o caminho todo relembrando tudo que havia acabado de me acontecer, em como ele era bom demais pra ser verdade, e como tudo que é bom pode durar pouco.

...continua...

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