Nem sei como senti meu celular vibrar no meio daquela baderna em que eu estava. Era uma festa de um amigo do trabalho. O som estava alto, as pessoas falavam alto... fui ao banheiro atender. Era ele. Sua voz estava mole, e suas palavras tinham pouco sentido. Mas foram suficientes para me deixar sem chão.
Ele estava bêbado. E assumiu tal estado debilitado na primeira frase ao telefone. E também que precisava ter bebido para tomar coragem de me dizer tudo o que precisava.
Apesar de eu ter sido uma das mulheres mais marcantes em sua vida, a qual ofereceu a ele os momentos mais inesquecíveis que já passou, ele oficializava ali que estava me deixando. Sem eu ao menos ter a chance de lhe dizer algo, ele desligou o telefone na minha cara... e minhas pernas tremeram.
Encostei na parede e fiquei ali por uns 20 segundos, olhando para o nada. Só me dei conta que estava inteiramente apaixonada depois de ter levado um fora. Um fora de um bêbado. Um bêbado que tinha ido embora, e só depois de partir que eu me dei conta o quanto queria me entregar à ele.
Procurei aquele anel em meu pescoço...e infelizmente não o encontrei. Tinha cometido a burrada de tirá-lo. Porque? Mais um vez?
Peguei meu casaco e a bolsa e caminhei pra casa. Não conseguia chorar. Não consegui sentir mais nada depois que sai daquele banheiro. Senti um gosto amargo na minha boca. Talvez fosse o que estava entalado. Tinha vontade de gritar alto... queria que chovesse! Como me faria bem caminhar na chuva!
Não tinha me dado conta do perigo que estava correndo andando sozinha aquela hora da noite. Senti o conforto dos meus dedos dentro daquele All Star. Não queria voltar pra casa. Boris que me perdoasse. Diminui os passos. Fui andando olhando para os meus pés. Passo a passo. Lentos. Aquilo poderia ser uma babaquice. Mas era dessa forma que eu tinha que conduzir a minha vida: com conforto e a passos lentos. Eu não podia me permitir novamente ser tão marcante para alguém, mas acreditar que aquilo não faria tanto sentido. Como faria pra mim se eu me permitisse na hora certa.
Será que temos a gentileza de somente marcar a vida das pessoas? E depois disso sermos apagadas do seu dia-a-dia? O saudável seria fazer parte somente das lembranças? O que é bom sempre tem que se transformar em tragédia?
Eu não queria mais ser marcante na vida de alguém. Na verdade eu não sabia mais o que eu queria. Nunca soube. E quando eu acreditava que estivesse tendo a certeza, tudo virava pó. Mas não queria fazer disso uma tragédia grega, por isso que eu permitia a brisa levar embora os meus pensamentos.
Cheguei em casa e na minha porta havia um alguém: o meu ex.
As poucas vezes que nos encontramos após o nosso término, nos cumprimentávamos com o olhar. Pensei o quão longo seria aquele dia! Jesus! Porque tudo hoje?
Senti três gotas molhando meu rosto. Chuva!
Sentamos nos degraus do portão. E que eu fosse mulher suficiente pra aguentar mais uma!
lindo, intenso e a questão de reflexão que você colocou é a mesma que todas nós mulheres passamos um dia, pelo menos eu acho né? porque já me peguei pensando nessas coisas, é realmente aquele momento em que só a chuva poderia nos entender e limpar nossa alma.
ResponderExcluirPena que Glória Peres ainda não descobriu esse Blog.
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