Carol Nitto: Bukowski na vida real


Ela é mesmo uma filha da puta e daquelas que sabem de tudo o que se passa aqui dentro. Eu não sei como, mas ela sabe, até mais do que eu mesmo. Eu ainda continuo na mesma... inerte e sei que minha vida tem sido um tanto morna sem ela, mas sei também que não adianta mais. Prefiro me esconder atrás de cervejas geladas e baratas, isso sim me dá o verdadeiro prazer. Beber significa mais do que qualquer outra coisa nesse momento. A minha felicidade e a minha existência podem se resumir em uma garrafa de uísque vagabundo e um controle de x-box. Assim eu consigo camuflar a minha própria consciência que pesa mais que um elefante. Mas, porra, que culpa eu tenho se ela é tão gostosa? Era tesão, não era amor. Dizem as más línguas que nós, seres humanos, confundimos tesão com amor e é verdade, sou a prova disso. A desgraçada sabe como me deixar duro só de tirar as meias. Aliás, o que um homem pode oferecer ao mundo se não um pau duro? As mulheres trabalham, são inteligentes, têm os filhos, cuidam da casa, de nós e de tudo e tudo o que podemos dar em troca é um pau duro. Sociedade machista. Eu sou machista e minha cabeça parou no século XIV, bem sei.Sabe o que é foda mesmo? É que isso tudo virou uma novela, material literário e a maldita usa contra mim porque sabe que eu fico atormentado e sem entender como ela pode saber de tudo isso sozinha. Tenho raiva dela, sinto que estou sendo observado, mas observado por dentro e é como se a cada passo meu ela estivesse presente para rir da minha cara. Sou declaradamente um idiota, mas o que posso fazer? A vida me fez um idiota e eu acompanho a onda da maré. Um idiota e meio atrás de tantos outros. Tenho absoluta certeza de que nesse exato momento, enquanto eu tento ficar bêbado, ela está em algum canto da casa rindo de mim, rindo por dentro com um orgulho de quem já sabe o que está para acontecer. Filha da puta! Se eu soubesse... ah, se eu soubesse de tudo antes...Além de tudo sei que sou covarde. Arranjei um jeito fácil de eufemizar as coisas, mas existem coisas que não podem ser suavizadas. Eu menti. Não acredito em tempo, não acredito nela, nunca acreditei em nós e mal acredito em mim. Caralho, sou um puta de um covarde mesmo, mas sou um covarde sádico, gosto de bater aos poucos, fazer o sofrimento latejar vermelho na pele, estranhos prazeres...Queria mesmo era deixar meus dedos cravados naquela bunda e consegui. Fiz a minha parte de macho, sou instintivo. Mesmo assim, ainda tenho meus valores e eles são tudo o que tenho agora. Meus valores por mais invertidos que estejam me fazem pensar que não sou o monstro atrás do mocinho. Eu acredito em Deus e tenho medo de ser punido, hilário, não? Uma vez ela me disse que as pessoas acreditam em Deus só para se esquivar dos erros e dos pecados, mas mesmo assim eu acredito. Precisa haver algo maior lá fora. Quando olho para o céu, vejo que existe a divindade em minha volta e é algo grande. Eu sou menos do que um grão de areia perto de tudo, até mesmo perto dela. Que coração grande, é uma pena. Mas ninguém morre assim, ninguém morre de amor, as coisas só servem para nos deixar mais fortes. Mais fortes? Por que sou tão fraco, então? Tenho essa máscara em mim, mas foda-se, sou eu e ninguém precisa saber.Tem vezes que é melhor dar o soco e se afastar mesmo. Lutar não parece certo.

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