parte 7 - Bóris sem a comida

Devo ter sido uma companhia super chata pra minha mãe...não me recordo da metade da nossa conversa enquanto almoçávamos juntas. Adorava a comida e a casa dela... assim como a casa de todas mães e avós, tem aquele conforto que bate até preguiça de voltar pra nossa...

Mas, enquanto ela me colocava a par dos assuntos da família, me perdi nos pensamentos, pra variar. Senti um enorme carinho por ele ao relembrar da noite anterior, e me queixei calada por não compreender meus próprios sentimentos. Querer e não querer... aproveitar ou parar... pisar ou voar... me cobrar ou aceitar...

Já era noite quando fui embora. E pensar em ficar em casa sozinha em pleno sábado me deprimia. Eu podia ligar pra ele, voltar atrás do convite recusado, mas já tinha quebrado tanto a cara por me envolver com esses tipos de situações novas que criei monstros à frente de qualquer gente nova que me aparecesse. Me segurei pra não chorar no caminho de volta, mas me dei conta em que eu me tornei. Não podia me desvalorizar tanto como mulher que pudesse oferecer algo para um homem; não queria me tornar mais uma que não pudesse ser uma diferença – eu podia ser mais do que aquilo.

Cheguei na estação do metrô super tarde e lembrei que tinha esquecido de deixar comida para o Boris, o meu cachorro e fiel companheiro. Boris deveria estar me odiando...até o Boris! Será que eu estava de TPM? Estava fazendo tanto drama pra nada! Minha memória estava até me surpreendendo, já que reconheci a “menina belga” da noite anterior saindo do vagão enquanto eu embarcava. E novamente aquela mesma feição de descontentamento. Um vazio no olhar... estranho como ela marcou na minha memória... tinha pensado nela naquela manhã...

Boris realmente estava atacado quando cheguei em casa. Ele tinha rasgado todo o meu jornal pra chamar a atenção e me fazer lembrar que fui muito, muito má com ele! Ficarei sem ver as noticias do dia por conta de um relapso. Era quase onze da noite...

Pra não ficar pior do que já estava, decidi entrar no mundo virtual até bater o sono. Assistir filme me faria sentir saudade de alguém ou de algo que não existe ainda em minha vida. Não estava com cabeça pra pensar...

Um convite no Skipe pipocou na minha tela. Era ele! Como meu usuário era manjado! Ele só juntou meu nome e sobrenome, e estava ali, descoberta! Ele estava on line... e conversamos abertamente como se a noite anterior tivesse se repetido inúmeras vezes dentro de um tempo o qual não tivemos, mas criamos na nossa real situação. Trocamos diversas confidências durante toda a madrugada – descobri que assim como eu, ele também um dia sofreu por amor. Era tudo tão recente pra ele; tão novo pra mim! Percebi que a boa impressão da magnitude do nosso momento tinha sido puramente real – nada era ilusão! Percebemos o quanto tínhamos em comum: situações, sentimentos, confusões, gostos culturais, o que esperamos da vida, sonhos...

O sol já estava acordando quando nos despedimos com um aperto no coração... realmente eu queria encontrá-lo novamente. A minha confusão compartilhada virtualmente começou a disseminar dentro de mim...


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