2. Dá uma piscadinha para a câmera?

 


Quando conheci a personagem no. 2, eu tinha acabado de me mudar para uma cidade que eu não queria morar. Eu era uma adolescente meio perdida, magricela e com uma facilidade imensa de fazer amizade. Mas eu também era uma pessoa difícil de confiar em qualquer pessoa.

Com a 2 isso foi o oposto. Estudávamos na mesma escola, mas nunca na mesma sala, mas colegas em comum facilitaram para que estreitássemos o laço mais do que rapidamente. Eu não sei dizer ao certo qual foi o momento exato que isso aconteceu, mas quando me dei conta, ela fez com que a minha vontade de voltar para onde saí se dissipasse, e com isso, estávamos lá fazendo o possível para frequentarmos a casa uma da outra.

Digo "fazer o possível" porque assim como eu, a vida dentro da casa da 2 também não era nada fácil. Pais controladores fantasiados de superprotetores eram a nossa sina compartilhada, inclusive compartilhávamos também os nossos mais longos desabafos nesse sentido, já que sempre fomos "meninas boazinhas", mas parecia que nada era capaz de conquistar a confiança dos nossos pais para que pudéssemos viver as nossas vidas de adolescentes como todo mundo da nossa idade fazia. 

O ano era 1996, e morávamos em pontas opostas da cidade. Mas atravessávamos tudo a pé, subindo e descendo ruas, debaixo de sol e sem reclamar. Hoje em dia a gente não tem mais 1% dessa energia, mas o compromisso com nossa cumplicidade, este só cresceu.

Mas foi com a 2 que vivi experiências saudáveis que nos eram permitidas mesmo dentro de nossas limitações. Compartilhamos uma paixão pela nossa boyband preferida, e até escrevemos uma carta quilométrica que foi entregue ao vivo em um programa de televisão, e fizemos um escândalo quando o dito cujo da banda lançou uma piscadinha em nosso nome para a câmera, a pedido da apresentadora. Passávamos tardes ouvindo aqueles CDs até riscar, decorávamos todas as letras, juntávamos dinheiro para comprar revistas, e pasmem, montamos até um fã clube fajuto que teve 4 sócios e durou o que? Uns 3 meses?

Sem querer compartilhamos também a mesma boca de um menino. Esse safadinho tentou ficar com as duas ao mesmo tempo, sem uma saber da outra. Conclusão: acabamos atazanando a vida desse garoto, e pensando friamente hoje em dia, talvez a peça pregada por nós não deve ter feito nem cócegas no moleque (éramos bobonas, jamais pensaríamos em algo que realmente surtisse o efeito desejado).

Aí só depois de mais velhas, com nossas independências conquistadas, que fomos aos nossos tão desejados shows juntas, incluindo um enorme festival no interior do Estado. Acredita que nunca fomos em um show da tão amada boyband? 

Ah! E cabulamos aula pela primeira vez juntas. A primeira e a última. Estudávamos de manhã e ficamos sentadas em um fliperama olhando uma para a cara da outra, sem ter porcaria nenhuma para fazer, até que nosso transe foi interrompido por uma incrível e enorme rajada de cocô de pomba se estatelando no piso frio.

A verdade é que crescer ao lado da 2 me mostrou tantas coisas incríveis, inclusive que a cumplicidade que nunca morreu entre nós é viável porque o nosso amor é genuíno, e mesmo que crescemos adultas diferentes, ele permaneceu aceso incondicionalmente na nossa vida. 


A personagem no. 2 se autodenomina medrosa, mas é a garota que mais gosta de se jogar em uma aventura de forma destemida. É uma pessoa tão determinada a seguir os passos mais planejados, mas jura de pé junto que é indecisa (ela só não entendeu que ela tem dia e hora certa para tomar decisões certeiras). Ela se vê como uma pessoa desligada, mas observa coisas que até Deus duvida. É alguém que conquista a admiração de qualquer um porque sonha acordada - porque ela não quer perder um segundo de seus sonhos sendo conquistados (e ela conquista, viu? Pode demorar um pouco, mas ela conquista).

Ela confia em mim para mudar as senhas das suas mídias sociais, para que ela não fique perdendo tempo olhando coisa que não deve.

E depois ela fica perplexa de como eu pude escolher uma senha tão fácil dela adivinhar, e ela sequer tentou fazer isso.

Ela corre tanto atrás do que quer que inspira todo mundo em volta a fazer igual.

A personagem número 2 se chama Vivian.

Minha Vivi Aventureira.

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