Sobre pertencer à uma geração que não é exatamente a minha



Ontem uma amiga incrível compartilhou um texto tão incrível quanto ela da Ruth Manus para o Estadão, e aconselho você lê-lo antes de continuar em meu post. Basta clicar aqui (mas não esqueça de voltar pra cá, hein?).
Leu? Pois bem... eu também! E descobri algo muito curioso ao meu respeito: eu sou uma pessoa deslocada da minha própria geração, e com isso, entendo porque tive tanta dificuldade de me encaixar  quando isso pra mim ainda era algo importante.
Se olhar ao seu redor, descobrirá o quanto Ruth Manus só falou verdades. Hoje as pessoas não tem apego nenhum a nada e nem à ninguém. Hoje é tudo uma questão de oportunidades e oportunismos, e esquecemos de dar valor ao que de fato importa. Espera... esquecemos não, vocês esquecem, porque eu aqui sou a deslocada.
Já fui chamada de grudenta por me preocupar com quem se dispôs a me dar uma carona pra casa e pedi para me avisar se tinha chegado bem (olha, eu morava longe, viu? Longe mesmo).
Já fui chamada de intensa demais porque me permiti viver momentos incríveis que fizeram toda a diferença na minha vida.
Já fui questionada pelo fato de não terminar um relacionamento só porque tive um desentendimento com o meu parceiro.
Já fui chamada de controladora porque resolvi ter prioridades junto com meu parceiro. E uma delas não estava gastar o que nem tínhamos em bebida no bar.
Já fui julgada como sentimental porque não aceitei ter amizades rasas de Facebook ou Whatsapp.
Já falaram muito mal de mim porque preferi receber na minha casa somente pessoas que faziam questão da minha cia e não de quem preenchia a minha sala.

E hoje entendo porque recebi cada julgamento citado acima: porque nasci na época errada e não possuo o perfil da minha própria geração. A geração dos mimados.

Pra mim ser grudenta tem outro nome. Empatia. Empatia por quem se predispôs a dirigir 40 quilômetros a noite pra me deixar segura em casa. Uma forma simples de agradecer a tal generosidade. 
Se sou intensa? Sim, devo ser mesmo. E daí? Que mal há nisso? Se em meio à tantas responsabilidades e problemas que temos na vida adulta, não tivermos o direito de relaxar e aproveitar pequenos, grandes, simples ou inesquecíveis momentos... qual é a vantagem em crescer? Porque não posso querer viver cada segundo do que me faz esquecer de tudo o que me tira o sono?
Não, não termino um relacionamento por conta de uma desavença, porque hoje é muito difícil encontrar outro deslocado da nossa geração e que não me julga como os outros, além de dividir os mesmos objetivos que o meu. Pra mim estar em um relacionamento é muito mais que andar de mãos dadas e fazer amor, tem muito mais a ver com parceria, cumplicidade, união e respeito. E pra isso, precisamos dar todas as oportunidades que o nosso coração mandar, até a razão dizer CHEGA.  Sentimento não é um desenho que você amassa e joga no lixo só porque deu uma borrada na pintura.
Talvez possa ser controladora mesmo. Controlo minha vida, meus planos e minhas atitudes para que eu possa ter a oportunidade de alcançar meus objetivos, já que nossos sonhos somos nós que corremos atrás e não tenho nenhum patrocínio pra fazer isso por mim. E mesmo que eu tivesse. Acho que cada um leva a sua vida como quer. Isso se chama liberdade.
Sentimental? Não não... aqui entra o intensa de novo. Pra mim amizade não é aquela de boteco, de balada, de festinha, de oba oba. Amizade é olhar nos olhos, pegar na mão, dar o ombro, ouvir, ser ouvida, aconselhar, se interessar, rir, chorar, dividir segredos, falar desde amenidades até sobre a alta do dólar ou sobre o sentido da vida. Sim, eu me acho, e acredito que minha amizade não deve ser dada para qualquer pessoa que não a mereça e que desconheça tudo o que mencionei.
Queria então fazer deste post um pedido de desculpas à minhas geração, por ser tão diferentona. Por ser tão esquisita e desencaixada. Não sei ser diferente porque seria infeliz. Logo, para não sofrer, preferi parar de me importar com os julgamentos, parei de querer ser aceita como sou e passei a me aceitar - isso já me bastava e demorei pra enxergar isso. Não vou morrer por preferir viver no meu próprio mundo a ter que dançar a música que eu nem gosto.

Foto: Carla Brasiliense

3 comentários

  1. Só li Sheilas o texto todo. Parabéns, ega, texto lindo e muito pertinente para os dias de hoje. Por muito tempo da minha vida tentei não ser a deslocada da geração, mas ai fui percebendo que aquela não era eu. E bem, hoje em dia prefiro não dançar a tal musica na boate lotada só para não me deslocar. Um beijo.

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  2. Muitas dessas coisas que tu sente, eu acabo sentindo na pele também. Sou bem deslocada dessa nossa geração, às vezes me sinto totalmente fora, mas tem dias que acabo dentro, sabe? Sou um misto de antiguidade e e novo século!
    Não gosto de amizades rasas, essa coisa de dar liberdade pra qualquer um, pra fazer número, nunca foi uma coisa que me agradou, e por causa disso as vezes até meu noivo me chama de antipática. A gente tem que saber onde o sapato aperta né?
    Infelizmente vivemos em uma geração terrível, que além de descartar tudo e todos, ainda acha que pode se meter na vida de todo mundo também, então, boa sorte pra nós.

    Beijos

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