A Estrangeira, de Claudia Durastanti

 


"A história de uma família se parece mais com um mapa topográfico do que com um romance, e uma biografia é a soma de todas as eras geológicas que você atravessou", anota a narradora deste livro singular e apaixonante. Como se conta uma vida senão explorando seus lugares simbólicos e geográficos, reconstruindo um mapa de si mesmo e do mundo vivido? Entre a Basilicata e o Brooklyn, de Roma a Londres, da infância ao futuro, este romance de Claudia Durastanti é uma aventura ― muito pessoal ― que combina novas e velhas migrações. 

Filha de pais surdos que se opõem à sensação de isolamento com uma relação tão apaixonada quanto raivosa, a protagonista vive uma infância febril, algo frágil, mas capaz, como uma planta teimosa, de deixar raízes em todos os lugares. 

Descendente de uma família de imigrantes que trocou a Itália pelos Estados Unidos, ela nasceu no Brooklyn. Mais tarde voltou com a mãe para a aldeia da família na Itália. Adulta, se muda para Londres. Em todos esses lugares, a mesma sensação: a de ser estrangeira. Mas a menina que se tornou adulta não para de traçar novos caminhos migratórios: para o estudo, para a emancipação, para o amor irremediável. 

A alteridade se torna parte de seu espírito. História de uma educação sentimental bastante contemporânea, A estrangeira cativa pela fluidez de seu texto e de sua própria forma ― capaz de conter a geografia e o tempo. E demonstra que a história de uma família, suas vozes e seus percursos, é, antes de tudo, a narrativa de uma casa que pode estar em todos os lugares.

Sinopse da editora

"Esta era uma das vantagens da solidão: não era necessário buscar simetrias."


Sabe quando você lê um livro que mais parece um desabafo de uma amiga do que uma história? Foi essa a sensação que tive ao ler “A estrangeira”, uma autobiografia de Claudia Durastanti, publicado aqui no Brasil pela editora Todavia.

A Claudia é filha de pais surdos e imigrantes italianos. Ela nasceu no Brooklyn, Nova York, e se mudou ainda jovem para a Itália com a sua mãe. Durante a sua vida universitária a autora se muda para a Inglaterra e todas as 253 páginas do livro são um relato de como ela não se sente pertencente à lugar algum.

A escrita de Claudia me lembrou muito a de Elena Ferrante, e a sua narrativa é muito semelhante a trilogia Esboço, de Rachel Cusk. O livro tem capítulos bem curtos, e pra mim foi um exercício de “escuta” e empatia. Digo isso porque muito do que Claudia sentiu provavelmente seria sentido de forma diferente por mim, mas como nossas experiências de vida são únicas e individuais, o meu relacionamento com minha mãe é bem diferente do de Claudia com a mãe dela, não dá para usar a minha régua para julgar a forma como ela se sentiu diante de tudo o que passou.

Ler este livro é como ter uma conversa com uma amiga que precisa desabafar, e isso pode gerar uma certa estranheza e desconforto caso você não tenha muita paciência para “ouvir”. Mas trata-se de um desabafo de alguém que nunca se sentiu pertencente a nenhum lugar, nem mesmo dentro de sua própria família.

Embora a leitura seja bem morna, sem nenhum plot ou algo extraordinário, Claudia traz muitos relatos sobre a infância dos pais, como eles se conheceram, a motivação do casal para imigrar para perto da familia da mãe, e como foi crescer diante desses dois universos, que na visão dela, era praticamente paralelos.

Teve momentos do livro que me identifiquei muito com ela, como o capitulo de sua adolescência, principalmente em relação aos anseios bobos e por ficar horas pensando em como uma música tinha tudo a ver com um filme que gostava. No caso, ela conta como uma música do REM parecia uma analogia do filme “Conta comigo”.

Não é um livro para ler a qualquer momento. Ele exige muito da sua concentração e paciência,mas também nos traz diferentes reflexões de como nos sentiríamos diante das mesmas situações em que Claudia viveu.

Em muitos momentos Claudia é bastante dura na critica aos pais, e isso pode incomodar bastante algumas pessoas, mas eu acho as criticas honestas, não me incomodou não. Ela expõe um pai muito problemático e uma mãe bastante impulsiva. E quando a gente pára para analisar, percebe que nada mais é que um comportamento reflexo da educação (ou a falta de) que ambos tiveram.

Eu visualizei 3 partes distintas contextualizadas no livro: um breve relato sobre a juventude dos pais, e como eles se conheceram, a construção de sua família, assim como a sua ruína. E já no final do livro, Claudia até esquece um pouco da existência dos pais, falando mais sobre si mesma e seus relacionamentos. Mas depois você entende que é a maneira como a autora quer que você perceba o quanto sua vida familiar afetou os seus relacionamentos.

Se Claudia fosse minha amiga e me pedisse um conselho, eu diria a ela que o reflexo de sua vida sentimental não tem nada a ver com a surdez de seus pais, mas sim a relação tóxica que eles tiveram, e que ela presenciou.

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