Até logo, Peaky Blinders

 


Me despedi da melhor série que assisti na minha vida dois dias depois de sua última temporada ter sido lançada na Netflix - Peaky Blinders foi perfeita do 1º ao último episódio, com cada personagem, cada fala necessária para criar uma narrativa amarrada e sem pontas soltas (mesmo que muita gente ache o contrário, muito mais por pura ansiedade para esperar o filme do que qualquer outra coisa).

Embora a sexta temporada tenha sido anunciada como a última, o criador da série Steven Knight já passou o recado que a trama só será encerrada em um filme. Do meu ponto de vista, todo o desenrolar do último episódio entregou de bandeja a confirmação deste anúncio. E ficou bem óbvio que a história se desenrolará durante o período da Segunda Guerra Mundial, com Mosley tendo o seu papel merecidamente bem explorado.

Mas falando da trama como um todo, Cillian Murphy, que desde sempre atuou em papéis coadjuvantes em ótimos filmes, levou a série nas costas de maneira brilhante, contando com alguns braços direitos de peso, como a inesquecível Helen McCrory (tia Polly), Paul Anderson (Arthur) e Tom Hardy (Alfie) - é impossível imaginar Peaky Blinders sem esses personagens, mesmo que nesta última temporada tivemos que lidar com a abrupta ausência de Polly por conta da morte da atriz.

Ainda sobre Cillian, carregar um personagem viciado em controle por 6 temporadas com certeza o presenteou com aquela fama estilo Harry Potter - ele não será mais chamado de Cillian na rua, ele será chamado de Thomas Shelby para sempre, e lembrado por seu corte de cabelo "chavoso" que ele tanto odiava.

Os anos 1920 / 30 trouxeram um charme em sépia para a fotografia da série, misturada as cenas escuras e sombrias para mostrar a pluralidade de uma familia de ciganos, ex combatentes de guerra, que lentamente dominam a cidade de Birmingham. Amo toda a atmosfera desta época, principalmente os figurinos que mesmo os mais modestos, mostram uma elegância ímpar com o simples intuito de manter aquecido os habitantes daquela região que vive nublada por todo o ano.


A história de Peaky Blinders te faz duvidar de sua própria moral, já que torcemos insanamente para que uma gangue que comete um crime atrás do outro se safe sem nenhum arranhão. Assim como Game of Thrones, se apegar a um personagem em Peaky Blinders é pedir para sofrer, pois ou ele dará baixa no elenco, ou ele se desviará de uma forma duvidosa que faz o seu amor se transformar em ódio. Mesmo que a narrativa seja muito mais construída com diálogos inteligentes do que por cenas de ação, o ritmo lento se faz necessário porque são tantas janelas abertas, tantas situações que mais parecem um barril prestes a explodir, que se isso fosse apresentado de maneira apressada, a facilidade em perder o fio da meada seria imensa. Mas até isso é feito sob medida para que os 6 episódios de cada temporada não sejam maçantes, e sim intensos.



A quinta temporada, sem dúvidas, foi a minha preferida. A dinâmica da história foi insana, e introduzir Oswald Mosley em uma nova fase de Thomas Shelby foi delicioso de acompanhar. Isso aumentou minha expectativa para a sexta temporada, que no final das contas, acabou apagando o personagem pela necessidade de mudar a trama para se adequar às gravações limitadas diante de uma pandemia. Este tópico me fez entender a necessidade de finalizar a história em um filme, já que Mosley precisaria certamente de situações grandiosas, com presença de grande público (lê-se figurantes), para continuar a dar sentido às suas (absurdas) motivações.


Red Right Hand, de Nick Cave, mesmo tendo sido gravada muitos anos atrás, se tornou marcante na abertura da série, e até ganhou diferentes versões, incluindo uma do Arctic Monkeys. A música, inspirada no poema "Paraíso Perdido" de John Milton, escrito no século XVII, fala sobre "as mãos vingativas de Deus", e representa muito a personalidade de Tommy e como o personagem resolvia os seus problemas, não acha? Na sexta temporada, o declínio do clã já se mostra com a ausência da canção na abertura, que também explica a mudança comportamental de Tommy durante alguns capítulos.

Um adendo muito necessário aqui: a trilha sonora de Peaky Blinders é uma das mais brilhantes que já ouvi. Foi com ela que conheci o Idles, e me perdi completamente em todos os álbuns desta banda desde então.



Não posso deixar de mencionar a homenagem linda e indireta à Helen, que faleceu enquanto a última temporada estava sendo filmada. O adeus à Tia Polly foi honesta - dava para ver que os atores não estavam se despedindo somente da personagem, e sim de uma grande colega de trabalho que inspirava à todos com sua rica bagagem profissional.

Honestamente? Se você ainda não assistiu Peaky Blinders, você não sabe o que está perdendo. São 6 temporadas, de 6 episódios cada, e é o puro suco da perfeição.

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