Cinquenta Tons Mais Escuros: o veredito


Na última semana, uma das sagas mais esperadas foi lançada nos cinemas de todo o país, e pudemos ver que raios aconteceu com Seu Christian e Dona Anastácia depois do fatídico término do casal no primeiro filme da franquia. Cinquenta Tons Mais Escuros é aquela parte da história que um dos protagonistas é devidamente apresentado e também desconstruído, e que para mim, foi um dos três livros que mais prendeu a atenção.

Caso você não tenha lido o livro e nem assistido aos dois filmes , não me responsabilizo por continuar a ler daqui, pois o conteúdo pode conter alguns spoilers:

Mas devo começar dizendo que apesar das críticas negativas sobre o primeiro filme, o trabalho de Sam Taylor Johnson como diretora me agradou muito mais que de James Foley. Cinquenta Tons de Cinza seguiu uma narrativa mais harmoniosa e menos acelerada que a sua sequência. E mesmo que a as pessoas pontuassem a atuação e falta de química do casal como pontos negativos, para mim aquilo foi até que necessário, já que estávamos sendo apresentados a um personagem cheio de traumas, que não socializava com ninguém de forma saudável e conhecendo pela primeira vez o que é ter um relacionamento com mais intensidade além do carnal. Os próprios irmãos de Christian o chamam de esquisito, não é mesmo? 
Em contrapartida, Foley conseguiu melhorar algo que sempre me incomodou muito no livro: a narrativa e diálogos pobrinhos. Aquela coisa de Deusa Interior para mim era um saco só, e me fazia revirar os olhos cada vez que aparecia escrito em uma página. Os personagens passaram a fazer mais piadinhas um com o outro, mas sem aquela forçação de barra do livro, tentando deixar tudo extremamente erótico o tempo todo. Também foi bem agradável ver a desconstrução de Grey,  de um cara frio à alguém mais leve e simpático, porém achei essa "passagem rápida demais". Mas espera, vou listar alguns pontos que anotei aqui no caderninho e já volto a discorrer sobre isso:
Primeiro, vamos comentar alguns pontos importantes que fizeram muita falta neste filme:

Onde foi parar o Dr. John Flynn?

Um dos personagens mais importantes na desconstrução de Grey, o seu psiquiatra, nem sequer apareceu ainda. Flynn tem uma grande participação no segundo livro, e ele além de ajudar Christian a ser um cara mais leve, também colabora muito para que Anastacia tome um decisão importante quanto ao relacionamento. Também senti falta de Christian falar mais sobre suas primeiras vezes para Steele, e como isso era importante para ele, demonstrando assim a sua mudança em lidar com sentimentos e relacionamentos.
E por falar nisso...

Alguns pontos importantes no desenrolar da história foram contados meio nas coxas

Tá certo que um filme de duas horas deve resumir ao máximo um livro de trocentas páginas, mas acredito que algumas cenas não muito importantes tiveram uma intensidade desnecessária, e que ocuparam o lugar para coisas mais essenciais. Por exemplo: já sabemos que Grey passa a ser um cara mais legal quando reata o namoro com Anastácia, certo? Mas no livro, isso acontece de forma gradativa (pois como sabemos, ninguém muda da noite para o dia), e que a gente consegue acompanhar de forma natural, sem que isso se torne um choque comportamental difícil de engolir. A forma como Anastácia começa a conhecer o passado de seu parceiro também é gradativa, por pessoas importantes na história, as quais não tiveram quase destaque nenhum no filme, como o pai de Christian e Mia, a irmã mais nova. 

... e algumas cenas são tão pouco exploradas que ficaram meio parecido com a novela Malhação

A cena do acidente de helicóptero foi demais para mim! Aquilo tudo foi tão rápido, sem coerência sentimental entre os personagens (a família inteira indo embora assim que o cara chega em casa acidentado. Não né?), e nem tão pouco cabível (o cara acabou de cair de um helicóptero! Cadê os pais médicos examinando esse homem, meu Deus do céu!? E como alguém ainda consegue transar depois de um acidente desse, e ainda depois de caminhar por horas e voltar de carona com um caminhoneiro? Ah pera... essa parte eles não mostram no filme)! Isso também me lembra de outra coisa pouco explorada...

Elena é um mero pino solto na história

Na trama mostrada no livro, a personagem que iniciou Grey ao sado é muito mais participativa. Ela tenta uma aproximação "amigável" com Anastácia o tempo todo, e o momento em que ela surta no aniversário de Christian quando ele anuncia o seu noivado é muito mais intenso. A pressa para acabar o filme parecia tanta que em menos de 1 minuto, Kim Basinger leva vinho na cara de Anastácia, uma sova verbal de Christian e um tapão da mamãe Grey. Cadê a raiva estampada na cara da recalcada? Cadê Christian colocando aquela senhora no lugar dela? Cadê mamãe Grey questionando o babado todo? Não meu amor, a escolinha Wolf Maia de atores para Malhação ali rolou solta. Nada de conversas sobre o término com o submisso dela, nada da história sobre o ex-marido... se você quiser saber disso, é melhor ler o livro.

Kate sobre o relacionamento da amiga: "não sou capaz de opinar"

Se Kate no livro não gosta nada nada do relacionamento da sua amiga com o cunhado, no filme ela parece não ser capaz de opinar, viu? Nada de contratos encontrados em bolsos de jaquetas e questionamentos sobre o noivado: Kate fica felizona pela futura união do casal. 
Ah, o irmão da moça, Ethan, nem existe no filme.

Essas foram algumas das questões que levantei enquanto assistia o filme, mas que não foram suficientes para me fazer odiá-lo. Foi um filme divertidinho, engraçadinho e ok. Esperava um pouco mais do redirecionamento da história, até mesmo pelo renome do novo diretor (ele dirigiu também a premiada série House of Cards). Como citei rapidamente anteriormente, acredito que algumas cenas poderiam ter sido menos exploradas para dar espaço para algumas explicações sobre os personagens e para um bom desenrolar da história mais caprichado. Senti muita, mas muita falta da trilha sonora selecionada a dedo pela autora, e que Grey sempre dava importância não só durante a relação sexual, mas também em momentos especiais do casal. Algo tão particular e bonitinho que deixaria o personagem ainda mais humanizado.
Mas o que foi mais inevitável foi comparar Christian Grey com Paul Spector, personagem também interpretado por Jamie Dornan em The Fall (essa série está disponível no Netflix e super recomendo!). Assim como Grey, Paul também foi uma criança que sofreu abuso, que também assistiu a morte da mãe, e que teve este trauma refletido em sua personalidade na vida adulta, mas a sorte de Christian não foi a mesma de Paul, já que o primeiro foi adotado por uma família estruturada, se ajustou na vida mesmo depois de se envolver com uma pedófila descarada e não matou ninguém, apesar de ter sentido vontade algumas vezes, rs. Nada me tira da cabeça que foi graças a Paul que Jamie se tornou Christian Grey.

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