Mídias retrô


Depois que a gente presenciou os últimos acontecimentos que vem revolucionando o nosso país, e 90% disso aconteceu com a ajuda da internet, bateu uma curiosidade muito grande com um pé neste assunto, e conversando com minhas queridas redatoras do PhD, trocamos figurinhas de alguns acontecimentos históricos e como elas seriam recebidas em nossas mídias sociais, caso a internet já existisse (ou fosse de acesso de todos) naquela época. 

Eu e o Impeachment do Collor, em 1992:


Se naquela época milhares de pessoas ocuparam as principais avenidas do Brasil para gritar FORA COLLOR sem nenhuma ajuda da internet, imagina se o Facebook e seus eventos já existissem? A proporção certamente seria dobrada! 
Imagino diversas pessoas compartilhando imagens do então presidente, com a frase SEU AQUILO ROXO NÃO COMBINA COM NOSSO VERDE AMARELO (referente a frase "eu tenho aquilo roxo" que Collor disse certa vez em uma entrevista), e também algo relacionado a indignação de suas contas sendo congeladas e o governo passando a mão no dinheiro suado do povo... E se vocês acham que houve vandalismo exacerbado nessas nossas últimas manifestações... acredite, em 1992 a coisa seria muito pior se a internet já existisse! Imagine se você visse seus amigos e parentes tuitando ou postando em seus Facebooks que as últimas firulas do governo deixaram todos falidos, fizeram perder bens, dinheiro e que todo mundo teve seus projetos aniquilados... além do mais, imagine se você visse fotos do presidente, no meio de todo esse fervo, fazendo cooper na praia, andando pra cima e pra baixo de avião da Força Aérea, entre outros luxos que ele e a primeira dama usufruíam com o dinheiro público. Tudo porque ele era o presidente mais jovem da história do Brasil. Com certeza a revolta da galera (o que não é justificável quando se parte pra violência, óbvio) seria bem maior. Os caras pintadas ficaram mundialmente conhecidos por terem derrubado o tal presidente porque foram às ruas acabar com a palhaçada e sem a hábil comunicação e propagação virtual. Por isso que nossas últimas manifestações foram as únicas que bateram os números de 1992.
(entenda mais sobre o Impeachment neste link aqui)

Eu e a morte dos Mamonas Assassinas, em 1996



Me lembro direitinho quando recebi a notícia da morte dos Mamonas. Foi pelo rádio. A comoção foi nacional. A notícia repercutiu internacionalmente, pois foi uma grande fatalidade, justamente quando o grupo estava no auge da carreira. Todo mundo ficou de coração partido naquele dia. E por ter sido uma criança fã da banda, ter passado uma fase da infância próxima de alguns integrantes, acredito que nem entraria no Facebook ou Twitter caso eles existissem em 1996. Primeiro porque possivelmente, receberia a notícia pelo Twitter, pois ali as coisas aparecem (e desaparecem) numa rapidez assustadora. O Facebook estaria infestado de compartilhamentos non senses de fotos de seus corpos mutilados (os jornais sensacionalistas - e hoje extintos - daquela época colocaram fotos dos corpos da primeira página durante dias) e com certeza uma chuva de cancelamento de feeds rolaria para o bem geral da nação. Milhares de pessoas que não eram fãs (apesar de ser difícil encontrar quem nunca gostou dos Mamonas) apareceriam compartilhando vídeos do Youtube de shows e clipes do único álbum lançado pela banda, e músicas até então desconhecidas da época em que eles eram ainda a banda Utopia, seriam baixadas na velocidade da luz. Possivelmente, algum site disponibilizaria o funeral ao vivo para os fãs de longe acompanharem, e assim como aconteceu mesmo sem a velocidade da internet, nós teríamos as mesmas lembranças inesquecíveis que eles deixaram para todos nós como herança, não é mesmo?
(Saiba mais sobre a banda neste link aqui).

Sara Richena e a morte de Senna, em 1994



Era uma manhã de domingo como outra qualquer e apesar da minha pouca idade na época, esse dia ainda está fresquinho na minha memória. Me lembro de todos os domingos pegar a minha mamadeira de leite com achocolatado e ir pro sofá com o meu irmão mais velho assistir as corridas de F1. Não que eu gostasse de ver carros correndo, não entendia nada mesmo, mas criança acorda cedo e era o que tinha na hora pra ver, pois roubavam minha hora do desenho pra ver F1. No dia 01 de Maio de 1994 a corrida acontecia em Ímola, na Itália. Tudo estava dentro dos conformes até que o nosso amado Ayrton Senna sofreu um grave acidente que tirou a sua vida. Claro que foi comoção nacional, ou melhor dizendo...mundial. Se naquela época a noticia ficou na TV, revistas e jornais por um bom tempo, imaginem nos dias atuais como não seria? A morte provavelmente seria anunciada aos quatro cantos pelas redes sociais: no Twitter as hastags seriam muitas que tomariam conta dos Trends Topics, fakes do Ayrton seriam criados tanto para homenagens quanto para brincadeirinhas sem graça. No Facebook nada seria diferente, além das inúmeras fotos postadas, incluindo as de péssimo gosto do acidente, compartilhamentos a todo momento e páginas sendo criadas com o perfil do nosso ídolo. Teria como ser diferente nos dias de hoje?

(Saiba mais sobre esta notícia neste link)

Sara Richena e o Xuxa Park pegando fogo, em 2001



Vocês se lembram quando o programa da Xuxa teve aquele acidente histórico? Foi em Janeiro de 2001, durante a gravação do seu Xuxa Park que o cenário pegou fogo misteriosamente. Nesse dia o estúdio recebia 300 pessoas, sendo 200 crianças e 100 adultos. Destes 300, 26 ficaram feridos gravemente e se não me falha a memória um dos integrantes de suas equipe que fazia um palhaço acabou morrendo dias depois por insuficiência respiratória. Se naquela época a noticia pipocou o mundo com dizeres de que tudo não passava daquela história do pacto que a Xuxa tinha com o "filho do mal" (não gosto de pronunciar o nome), imaginem hoje, em pleno 2013 com redes sociais bombando? Twitter e Facebook pipocariam a noticia pelo mundo todo com imagens do cenário pegando fogo, videos das pessoas desesperadas, e claro, muito compartilhamento de montagem e memes da Xuxa com o "filho do mal". Se bobear até uma versão macabra do Candy Crush inventariam. 

(Saiba mais sobre a fatalidade clicando aqui)

Soraia e a Revolução de 32



A Revolução de 32 teve um grande apelo por São Paulo e no Brasil na década de 30. Para mim, ela foi bem marcante porque pela primeira vez o rádio foi usado no Brasil como veículo de repercussão política. Isso teve grande impacto porque, se considerarmos que até hoje há um grande número de analfabetos (funcionais) no país, o rádio é uma ferramenta excelente de comunicação, ou seja, não há barreiras intelectuais de alcance. Creio que, se as redes sociais estivessem vigentes à época, São Paulo não seria tido comos eparatista, como é visto até hoje na história.
(Clique aqui e saiba mais sobre a história)

Gita e o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954



Imaginar a repercussão do suicídio de um Presidente, como a do Getúlio Vargas, que se matou com um tiro no coração em 1954, antes de ser deposto novamente, faria com que as mídias entrassem em colapso. Até aí, nada anormal, mas nas redes sociais, acredito que a banalização dos seus últimos atos seriam mais relevantes que toda a sua história política. Claro que várias massas defenderiam seu pensamento, mas é clássico hoje em dia, qualquer um dar a sua opinião e não sofrer da repressão por ela. Se a Dilma se matasse, qual seria o motivo nas mídias sociais? O poder das manifestações, o poder da democracia esmagando a sua capacidade de ter poder sobre o País.
Naquela época do suicídio, a repercussão foi política. Existia um povo Getulista e a oposição, brasileiros que se importavam com o contexto geral da nação. Talvez pelos motivos de revolta atual, esse mesmo instinto de patriotismo fosse defendido. Porém, estaríamos vendo reações ao extremo: Gente imortalizando o que sabe a respeito desse homem e político, e gente desmoralizando apenas o seu ato de desrespeito da vida com a morte. A grande diferença é a mesma em todos os tempos, a cabeça de quem irá comandar a língua e a escrita nas redes.
E quem sabe que este presidente foi quem fez a Companhia Siderúrgica Nacional para produzir aço, a Companhia do Vale do Rio Doce para extrair minério, a Petrobrás para explorar petróleo e a Eletrobrás para gerar energia? Foi Getúlio quem criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e o Banco do Nordeste para financiarem investimentos públicos e privados. Foi Getúlio quem deu às mulheres o direito de voto. Foi ele quem deu aos trabalhadores a legislação que ainda hoje disciplina suas relações com os patrões. E foi ele quem abriu as portas da administração pública para a admissão de funcionários por meio de concurso e do sistema de mérito. Ou seja, quem sabe disso tudo e o lado B da história também, iria criar expectativas de reflexão. E quem não sabe, não argumentaria além da ironia ou desgraça dos fatos...

(Confira a história de Getúlio clicando aqui)


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