Meu amigo Boris



Eu sempre quis ter o Boris. Era tamanha a vontade que chegou uma determinada época que não existia a raça Golden Retriever: era Boris! Mas meu pai adora estragar a educação dos cachorros; então decidi te-lo somente quando eu tivesse meu canto. Assim, eu poderia educar e estragar o cachorro ao meu modo.

Ele era tão pequenininho quando chegou em casa! Babão, chorão e uma graça - daqueles que você tem vontade de esmagar abraçando, de tão fofo! Não sei se o tempo passou e eu não me dei conta, ou se ele realmente virou um 'homenzinho' rápido, pois suas patas aumentaram de tamanho de uma hora para outra! E o tamanho do cocô então? Jesus! Combinamos então que ele seguraria até eu acordar pra passear com ele... assim o mini apartamento que moramos não ficaria interditado com aquele odor.

Apesar dele já ter comido um dos meus melhores sapatos, Boris nunca me deixou puta da vida. Me lembro quando cheguei em casa e o encontrei em cima da minha cama, com o sapato entre as patas, lambendo o que tinha sobrado daquela maravilha vermelha que demorei 5 meses pra pagar. Ia estourar uma blasfêmia quando ele inclinou ligeiramente sua cabeça para o lado e me olhou com ar de 'não brigue comigo, por favor!'. Amoleci completamente e conversei como se ele fosse entender que aquilo me magoava... mesmo sabendo que ele não entenderia uma só palavra. Mas acho que ele entendeu, porque nunca mais destruiu nada.

Ele já dançou comigo quando cheguei estourando de alegria, me acompanhou nas paqueras alheias, deitou no meu colo quando me viu chorar, assistiu comigo os melhores e piores filmes, dormiu do meu lado nos dias de chuva e nunca, eu disse NUNCA, deixou de ser leal, mesmo quando encontrou a mais bela cadelinha da praça nos nossos passeios de finais de semana a tarde. Me recebeu com alegria quando voltei das minhas viagem de trabalho e respeitou minha privacidade nos meus momentos pessoais. Será que é por conta disso que eles são considerados os melhores amigos do homem?

Fazia dois anos que Boris estava comigo. E virgem ainda. Se eu podia me virar, porque meu pobre e fiel cachorro precisava ficar tão... na seca? Uma vez o veterinário me disse que, ao perder a virgindade, o cachorro ficava mais tranquilo... será que Boris perdeu a virgindade depois que comeu meu sapato e não me contou nada?

Ele estava a minha frente, brincando que nem louco com a minha sobrinha naquele gramado, no final de tarde. O sol deixava seus pelinhos tão douradinhos! Minha sobrinha gritava de alegria quando ele trazia de volta a bolinha na boca. Fiquei contemplando essa cena sentada ali perto e pensando: se tem alguém que sempre terá um lugarzinho por perto sempre, esse alguém é aquele dono dos pelos dourados...


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