Trilogia de Copenhagen é a obra-prima de Tove Ditlevsen (1917-1976), uma das principais vozes da literatura dinamarquesa do século XX, e reúne três volumes autobiográficos. Em Infância , acompanhamos a história dos primeiros anos da escritora, que cresceu em um bairro operário e sonha em se tornar poeta. Juventude descreve suas primeiras experiências sexuais e profissionais e a conquista de sua independência. No terceiro volume, Dependência , Tove já é conhecida nos círculos literários ― mas sua vida pessoal entra em colapso comcasamentos conturbados e o vício em opioides.
Ao longo de todo o livro, está presente o embate entre a vocação literária de Tove e as expectativas reservadas a uma mulher de classe trabalhadora. Sucesso internacional de público e crítica, a Trilogia pode ser considerada uma antecessora intelectual e temática da obra de Annie Ernaux e Elena Ferrante, destacando-se por sua honestidade brutal e pela representação das amizades femininas.
Sinopse da editora
"Acho que isso é que os adultos tem de pior: nunca passa pela cabeça deles que, uma vez na vida que seja, agiram mal ou foram irresponsáveis. Têm muita pressa em julgar os outros, mas o dia de julgar a si próprios nunca chega."
Sabe quando você pega um livro bom no mood errado? Foi essa a minha experiência de leitura com A Trilogia de Copenhagen, pois estava eu em um momento que exigia uma leitura levinha, e acabei em um torpor denso dessa leitura avassaladora.
Mas essa densidade chegou aos poucos.
O primeiro capitulo sobre a infância me transmitiu algo que há muito eu ando refletindo: quando somos crianças temos a capacidade de proteger o nosso psicológico criando vertentes de nossos pais, e por isso temos muita facilidade para enxergarmos como heróis, como figuras imbatíveis que jamais deixariam acontecer algo conosco.
Quando crescemos e perdemos essa venda, parece que o baque é maior. Reconhecer as falhas de nossos até então heróis é doloroso, e muitas vezes difícil ao ponto de muitos se permitirem a submissão mesmo que esse relacionamento seja nocivo e penoso.
O capítulo da infância me surpreendeu pela clareza que a autora, ainda tão nova, tinha de sua realidade. A frieza da educação recebida tão comum naquela época é autoexplicativa - famílias disfuncionais que criaram novas famílias disfuncionais, que criaram outras novas famílias disfuncionais ao longo de tantos anos - se caso não conhecemos alguma família assim, certamente fazemos parte de uma.
Já o capítulo da juventude me levou a um outro universo lido antes - a da tetralogia napolitana, de Ferrante. Acho que por isso muitas pessoas assemelham a obra da autora italiana com a pioneira Tove. Um universo no qual a precariedade se faz presente, e que todos os jovens, sem exceção, buscam um lugar no mundo - a necessidade pulsante da aceitação.
Nessa fase Tove mostra o quão era a frente de seu tempo. O quanto os seus desejos iam além do que as moças de sua idade costumavam almejar para suas vidas, e ao mesmo tempo, vivia na mesma insegurança psicológica, emocional e financeira que muitas viviam.
Mas o baque maior foi o capítulo da dependência. Uma fase que chegou como um cometa na vida de Tove. Fiquei arrasada com seu relato forte, até apressado, sobre esta fase tão perturbada, e que depois descobri que infelizmente levou a sua vida. É desesperador saber que um toxicodependente abre mão de todas as coisas boas de sua vida para alimentar seu vício, seja a família, um grande amor e/ou uma carreira brilhante.
A trilogia foi escrita entre 1967 e 1971, e Tove faleceu em 1976, somente 5 anos depois da última parte de sua trilogia ter sido lançada.
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